A Banca do Blues é sem medo de errar o lugar mais rock´n´roll do Rio de Janeiro, hoje. Espaço democrático e aberto (no meio da rua), dá mais personalidade ao clima rock que só vemos em lugares fechados pela penumbra de paredes negras e roupas idem, que aliás pouco existem hoje em dia, pelo menos por aqui. Lá não, é na rua mesmo, mas tudo muito bem organizado, com um som de primeira e assistência à altura. Lá se apresentam as melhores bandas de rock e principalmente Blues (é claro), do pedaço, onde ficam rodeadas por um público atuante e participativo que se aglomera democraticamente na calçada de frente para a Banca mais querida do Rio de Janeiro, para assistir o show e consumir cerveja comprada ali mesmo, na banca de um cara que merece o nosso aplauso, apesar do seu temperamento durão e direto, seu nome, Paulo acompanhado sempre de sua esposa Denise, considerados o casal n.1 do Blues da cidade maravilhosa. Todo mundo quer tocar na banca do Blues. O HABITANTES tocou! Depois de muita negociação, conseguimos convencê-lo de que merecíamos uma oportunidade. Quebrado o gelo, metemos a mão na massa, convidamos todos os amigos; abriríamos o show; uma banda de covers-classic-rock, chamada 70street fecharia com chave de ouro, o espetáculo. As apresentações seriam formidáveis.
Era por volta das 21:30 de uma sexta, a noite estava linda e perfeita, os habitantes não poderiam ter melhor oportunidade para reiniciar seus trabalhos. Era a primeira apresentação da banda no ano (maio de 2009), estávamos acabando de mixar o novo cd, mas sedentos para tocar ao vivo e num lugar como aquele, era tudo que a banda precisava. Tocar na rua, para dezenas de pessoas que te aguardam e tantas outras que passam e param e te observam ...e gostam! Putz, era o máximo! A praça estava cheia e os aplausos eram para quase todas as canções, num lugar que sempre foi dedicado (geralmente) a apresentações covers, tributos e homenagens aos grandes mitos do rock, e de repente um trabalho autoral que estava dando a cara, sendo bem aceito, compreendido e aplaudido?! Era a consagração! Muito especial.

Então por volta das nove e meia da noite, quando Jefferson Rodrigues se dirigiu para o seu banquinho enquanto afiava suas baquetas uma na outra como se preparasse para devorar algum prato especial e o Léo gritou “Velocidade” (música de abertura) e entrou com sua guitarra Rickenbaker, invadindo nossos ouvidos com belas melodias e uma rispidez veloz, ao lado de automóveis que passavam em velocidade simultânea e mais as luzes dos prédios ao redor ilustrando a canção, o show logo pegou corpo, era também, de certa forma, uma confirmação da força que a banda preservou agora como Power trio, tendo Léo Enzo, não só mais na guitarra apenas, como também vocal definitivo, depois de uma boa jornada à procura por alguém que pudesse se encaixar tão bem quanto parece que ele se encaixou.
Na verdade, nos primeiros acordes da primeira canção da noite, a caixa de baixo falhou um pouco, tossindo nos graves, mas Vicentini, sagaz e esperto, regulou rapidinho o som tosco que a caixa emitia e continuou tocando seu baixo com a competência de sempre. A execução de “Adeus Paris” e “Pombos” ( canção estreante), as mais densas da banda, não causou o impacto esperado, muita conversa do público e agitação para elas, que um coverzinho dos Bealtles cuidou logo de sarar, a canção era “Ticket to Ride” e pronto, a galera voltou a vibrar e pediu bis, mas como tudo que é bom dura pouco, restava apenas mais dois cartuchos e foi “Suspeitas” que recuperou de vez o fôlego, deixando para a canção mais conhecida da banda fechar a noite de glórias! “Torres Gêmeas”, é claro e como sempre, arrancou suspiros de alguns e aplausos de todos, que fazia coro no refrão e que obviamente desejava ouvi-la mais uma vez, no bis, que até veio, mas com “Velocidade”, a primeira da noite e agora a última de fato, que teve ainda a participação surpresa e ilustre de Jefferson Volve, o último vocalista da banda, que atacou o microfone, sugerido com um gesto pelo baixista Vicentini, com tanta gana que acabou quebrando o pedestal; imediatamente ouvimos o ruivo silencioso do Paulo, o dono da banca, mas tudo foi contornado depois, deixamos para ele o nosso pedestal, que aliás era do próprio Volve e ficou elas por elas. Nada demais, quando se trata de uma legítima noite de rock´n´roll!
Valeu Rodrigues, Enzo e Vicentini! Valeu habitantes! Até a próxima!
